Amigos



21 DE JULHO, SÁBADO
Em artigo sobre o Dia da Amizade, o sociólogo e jornalista Demétrio Andrade avalia os diversos conceito de amigo. Confira:
Costumo dizer que tenho poucos amigos. É uma palavra que costumo tratar com muito cuidado, diria até com certa reverência. Mas, com o tempo, descobri que isso é muito relativo. O conceito “amigo” ganhou diversas facetas, cada uma delas com suas idiossincrasias próprias. Roberto Carlos, por exemplo, quando fala em ter “um milhão de amigos” o faz dentro de uma realidade tipicamente romântica: uma utopia que fez a alegria, lembro bem, de vários políticos que usaram este verso como slogan.
Aliás, o mundo do poder tem muito isso. Algumas pessoas adoram dizer que são amigos do fulano ou do sicrano mais ou menos influente. É o chamado amigo oportunista: aquele que apertará sua mão enquanto você detiver algum rasgo de superioridade sobre os demais. Como também cantava Nélson Cavaquinho, “Você tendo vida, saúde e dinheiro/Todos lhe querem muito bem/Mas se você fracassar/Pode ter a certeza/Que ninguém vem lhe procurar”. Mas não quero tratar de falsidade aqui, mas de tipologias cordiais.
Tem o amigo do bar. Aquele que na quinta-feira já está cheio de disposição para iniciar os trabalhos. Copos virados aqui e ali, algumas confissões inenarráveis, risos e choros e declarações de amor. O amigo do bar é, de fato, uma delícia, quase uma terapia, um anteparo seguro para se lamentar das agruras da vida ou dividir alegrias.
Tem o amigo do trabalho. A convivência diária, por horas a fio, lhe faz criar uma sensação de quase intimidade – às vezes até íntima demais. É aquele amigo com o qual você resolve os problemas, alcança vitórias profissionais, reclama da burocracia ou daquele colega que não cumpre suas metas. Num mundo esquadrinhado pelo viés econômico, o cara que bate ponto com você cotidianamente não pode ser tratado como qualquer um.
Tem o amigo da escola ou da faculdade ou do local de estudo. Com alguma sorte, você pode cultivar, desde a infância, aquele amigo dos primeiros saberes, dentro e fora da sala de aula. Alguns fazem reuniões anuais no antigo colégio ou em lugares onde possam se confraternizar e lembrar momentos que construíram histórias individuais ou coletivas: a professora, a viagem, o racha na hora do recreio.
Tem o amigo da rua, do condomínio, o famoso vizinho. Minha mãe sempre diz que é fundamental estabelecer laços de confiança com quem mora próximo a você. Muito provavelmente, na hora da urgência, são estes amigos que vão lhe prestar os primeiros socorros. Dar um simples “bom dia” no elevador é essencial para criar um mínimo de interação que vá além das portas e muros.
Poderia citar vários outros exemplos, geralmente vinculados aos locais que normalmente circulamos: igrejas, estádios, clubes, locais de nascimento e tantos outros. Mas há amigos que vão além daquele núcleo inicial, entram na sua casa, na sua vida, lhe acolhem de um jeito tal que se tornam imprescindíveis. E mais: mesmo passando anos e anos sem se ver, os reencontros continuam cheios de cumplicidade e afeto.
O fato é que, tal qual os bens materiais, é necessário cultivar um patrimônio imaterial. Uma economia de afetos. Pudera o mundo ter mais pessoas que priorizassem o amor aos amigos que suas contas bancárias. Até porque, creio eu, você pode até ter a ilusão de comprar amigos com dinheiro (e aí, meu caro, é torcer pro seu pote de ouro não acabar). Mas quem tem amigos mesmo, de verdade, sabe que eles simplesmente não tem preço.
Demétrio Andrade, sociólogo e jornalista

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Amigos BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 sábado, 21 de julho de 2018

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