Editorial do O POVO – “Mariana, Brumadinho e o País das tragédias anunciadas”


Com o título “Mariana, Brumadinho e o País das tragédias anunciadas”, eis o Editorial do O POVO desta segunda-feira:

Até quando? A palavra se impõe diante do registro de mais uma tragédia no Brasil que determina prejuízos ambientais de dimensão incalculável e perdas humanas no campo do irreparável. O dramático episódio que agora faz o País chorar em torno de Brumadinho, em Minas Gerais, choca, com especialidade, até dói, ao se perceber que estamos diante de um quadro absolutamente previsível e que poderia ser evitado, houvesse um pouco mais de responsabilidade e compromisso da parte dos envolvidos, tanto os da área pública como aqueles que operam pelo setor privado.
Há apenas três anos vivíamos o mesmo cenário, na mesma região, pelos mesmos motivos, praticamente, fruto de um quadro muito evidente de negligência e omissão que se repete. Portanto, reforçamos, o que acontece em Minas, a partir do rompimento de uma barragem administrada por uma empresa de mineração de grande porte, como a Vale do Rio Doce, insere-se na categoria do inaceitável e exige uma exemplar identificação e punição dos responsáveis, inclusive quando se percebe que o prejuízo calculado em termos de perda de vidas apresenta-se expressivamente maior. Mais gente morreu em Brumadinho, lembre-se.
Nenhuma indenização material que agora seja determinada conseguirá repor as perdas na dimensão em que elas estão apresentadas, no aspecto ambiental ou humano. Qualquer coisa que se faça nesse sentido terá um foco muito mais preventivo, estará olhando para o futuro, assumindo uma faceta de caráter essencialmente pedagógico e não de uma busca de reparar erros que, nesse caso, já terão deixado seus efeitos nefastos marcados na vida de milhares de pessoas.
Através de seus vários instrumentos, nos planos diversos em que se estrutura, no parlamento, no executivo e no Judiciário, o Estado precisa dar as respostas que situem-se no tamanho do problema colocado diante dele, que pareça exemplar e que tenha a capacidade simbólica de indicar, de maneira a mais clara, que nossa capacidade de conviver com tragédias de tal envergadura chegou ao seu limite. O prejuízo do País estende-se aos aspectos mais variados, embora a prioridade nesse momento deva ser total aos gestos de solidariedade com aqueles que tiveram suas vidas afetadas pela morte de parentes, a ameaça aos empregos ou com a perda de suas moradias.
A urgência que precisa mobilizar a todos é humana e deve ser mantida à distância de qualquer tipo de influência outra que nos faça desviar a discussão para o ódio político ou a diferença ideológica. Por favor, esta é uma situação que precisa de todos os cidadãos unidos, cada um de nós oferecendo o que tiver de melhor para reduzir o sofrimento de quem é vítima real e direta de mais uma das tantas tragédias anunciadas que desafiam o Brasil, um governo após o outro.
(Editorial do O POVO)

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Editorial do O POVO – “Mariana, Brumadinho e o País das tragédias anunciadas” BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

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