Rumo aos EUA – A Marcha dos Excluídos

Com o título “Rumo aos EUA: Macha dos Excluídos”, eis o Editorial do O POVO desta quarta-feira:
O mundo acompanha, entre indiferente e compassivo – com uma inclinação cada vez maior à compaixão – a marcha de mais de 7 mil migrantes da América Central (a maior parte hondurenhos) em direção aos Estados Unidos, em busca de trabalho e sobrevivência. Os caminhantes já andaram cerca de 700 km desde que deixaram San Pedro Sula, em Honduras, no último dia 13.
Famintos e sedentos – homens, mulheres, crianças e até bebês – dependem da caridade das populações por onde passam para matar a sede e a fome. São famílias e indivíduos que fogem da desestruturação social, do desemprego, da fome e da violência física. Esta última provocada por facções criminosas que atuam no tráfico de drogas e são extremamente violentas e impiedosas. Na verdade, atuam como verdadeiro estado paralelo, ao lado das instituições oficiais, em vários países centro-americanos e também no México, onde se constituem um verdadeiro flagelo.
Essa região também é muita afetada por uma estrutura fundiária muito concentrada nas mãos de poucos – geralmente voltada para monoculturas e com grande presença do capital americano. Sem terras para cultivar e sem emprego por causa das limitações na absorção da mão de obra desse tipo de empreendimento exportador, os excluídos só têm uma perspectiva de escapar de seu beco sem saída: migrar para o “paraíso” americano, no entanto fechado às suas pretensões. Ainda mais na era Trump, que pretende mantê-lo inacessível por trás de muros e cercas vigiadas por um verdadeiro exército de fronteira.
Os americanos, na verdade, têm muita responsabilidade pela situação aflitiva em que se encontram essas populações, pois historicamente, têm sustentado a inamovibilidade das estruturas geradoras de desigualdades sociais, a partir de alianças com as classes tradicionais “terratenientes”. Nunca deixaram de se imiscuir na política interna, patrocinando ou fechando os olhos a golpes de estado, regimes de exceção e repressão aos movimentos de expressão nativa. O último desses episódios foi o golpe que depôs o presidente Manuel Zelaya, em Honduras, retomando uma prática que já estava ficando esquecida, depois da queda das ditaduras no Continente, nos anos 80 e 90.
O presidente Donald Trump tem reagido com irritação e ameaças ao avanço da coluna de migrantes. Promete retaliações tantos aos governos – acusados de inertes – como diretamente aos migrantes que faltam percorrer 1.800 Km para chegar ao muro que separa o México do El Dorado americano.
(Editorial do O POVO)

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Rumo aos EUA – A Marcha dos Excluídos BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 quarta-feira, 24 de outubro de 2018

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