Segurança Pública passa por progressiva instabilidade no Ceará

Comunidade do ´Barreirão´ voltou a abrir suas portas no dia seguinte à maior chacina do Estado (Foto: Reprodução)
“É como se a Segurança Pública do Ceará estivesse presa em um círculo vicioso, em que a repressão inadequada de crimes culmina justamente no aumento deles”. A ideia, do sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC), Leonardo Sá, aponta para uma progressiva “piora” da instabilidade da Segurança no Estado. 
“A questão do encarceramento por crimes não violentos tem que ser repensada, porque são as penitenciárias que produzem as facções criminosas que atuam nas ruas”, analisou Leonardo Sá.
O cenário crítico vivenciado pelo Estado, com o crescimento da divisão de territórios para a venda de narcóticos, exacerbado por episódios como a Chacina das Cajazeiras, demanda do Governo, segundo o sociólogo, “inteligência e estratégia” em busca de soluções.
“Existe uma dificuldade do próprio Governo em elaborar uma política pública de enfrentamento dessa situação. Ele perdeu o controle. As chacinas não são fatos isolados, e a tendência é que ocorram novamente, se nada for feito pra desarticular essas facções”, alerta.
Para o especialista, um dos maiores erros cometidos no combate à criminalidade no Ceará é ignorar as raízes do problema. “Se as exclusões – de direito, social e econômica – não forem levadas a sério, você pode investir muito dinheiro em repressão: não vai resolver. As raízes do problema estão assentadas nessas desigualdades. Isso demanda um esforço político muito maior do que colocar mais viaturas, policiais e armas na rua. Isso é enxugar gelo”, avalia, alertando ainda que “se a Polícia age apenas de modo reativo, sendo mais uma agente na guerra, ela passa a alimentar a rivalidade”.
Soluções
Além de apontar para a “necessidade prioritária” da Segurança Pública cearense – a reformulação do Sistema Prisional, que “está gerando um aprisionamento em massa e alimentando o crescimento das facções” –, o pesquisador do LEV ressalta que a implementação de políticas sociais também integra os pilares das soluções possíveis. 
“É imprescindível retomar investimentos culturais, educacionais e de trabalho e renda para as periferias. É isso que desfaz o poder das facções nos territórios, mas exige participação de toda a sociedade. Não adianta apenas colocar vigilância, como se os bairros fossem campos de concentração”, critica o estudioso.
Conforme Leonardo Sá, existe, atualmente, uma inversão na lógica de convívio social – que tem mantido a cidadania encurralada. “Os moradores das periferias estão reféns – eles são cidadãos, mas estão sendo tratados como se fossem pessoas sem direitos. Como se as periferias não fizessem parte da cidade, não caracterizassem a vida urbana. É preciso parar de pensar que uma chacina na periferia é algo tolerável, que faz parte do cotidiano”, alerta, criticando, ainda, uma máxima que tem ganhado força no senso comum.
“Essa afirmação de que ‘bandido bom é bandido morto’ fragiliza o Estado de Direito. Se alguém comete um crime para punir outro, ambos são criminosos. E se o Estado não agir com essa perspectiva, estará se omitindo e produzindo guerra”, concluiu o sociólogo Leonardo Sá.
Fonte: Diário do Nordeste

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Segurança Pública passa por progressiva instabilidade no Ceará BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

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